#3 Números

Gustavo Tanaka
2 min readNov 5, 2023

Sobre a ilusão das métricas

Existem muitas armadilhas que nos mantém num mundo de ilusão. Libertar-se da ilusão e viver com lucidez é um bom desafio para se buscar. É um destes desafios que tem dado sentido à minha vida ultimamente.

Hoje quero falar sobre uma das maiores armadilhas da mente: Os números.

Há uma frase que costuma ser repetida de que os “números não mentem”. Em parte isso é verdade. Números são dados que mostram uma informação. Porém, é preciso ter muito cuidado com a interpretação desta informação.

Vou dar um exemplo.

Você organizou um evento. Pode ser um evento profissional, ou uma festa. Você tinha uma expectativa na cabeça de um número de pessoas, mas no dia, apareceram menos pessoas que o que você tinha imaginado. Ainda assim, você dá o seu melhor, cuida bem de quem foi e cria uma atmosfera fantástica para quem estava lá.

Você sai se sentindo bem, feliz, com a sensação de realização.

Aí você vai contar para alguém como foi. Começa dizendo que foi incrível, que vocês se divertiram, que foi uma experiência maravilhosa…

Então a pessoa pergunta: "Quantas pessoas foram?"

E aí aquela sensação boa começa a desvanecer porque você fala um número. E este número era menor do que o que você esperava. Ou talvez você possa se questionar se aquela pessoa considera aquele um bom número.

De repente, os números sequestraram a experiência. Deixou de se tratar da qualidade, do nível de presença, da felicidade experienciada e passou a se tratar de uma métrica que pode ser comparada.

Este é apenas um exemplo. Mas os números se apresentam e criam estas armadilhas em muitas situações. Pode ser pensar em quanto se ganha, quanto se gasta, quanto tempo leva, quanto dura, quanto impactou, quantas curtidas, quanto engajamento, e por aí vai.

A experiência não precisa de números. Precisa de presença, profundidade, verdade, intensidade.

É assim que a vida pode ser vivida longe da ilusão dos números.

O melhor negócio não é o que gerou mais lucro. É o que deixou as duas partes satisfeitas.

O melhor sexo não é a que durou mais tempo. É o que provocou entrega e conexão.

O melhor evento não é o que teve mais pessoas. É o que as pessoas se divertiram, ou se tranformaram.

O melhor livro não é o que vendeu mais. É o que tocou fundo no coração de quem leu.

Essa lista pode seguir e se aplicar a todas as situações.

Da próxima vez que se perguntar ou perguntar a alguém “quanto”, reflita se essa pergunta é realmente necessária e se é a melhor forma de saber se algo foi legal.

Não cair na armadilha dos números é caminhar em direção à liberdade.

Não é sobre vencer, superar números, ganhar mais. É sobre viver com presença e verdade.

Gustavo Tanaka

--

--