#4 Contradições

Gustavo Tanaka
3 min readNov 6, 2023

Eu sempre lutei muito com as minhas contradições. Elas me traziam culpa, vergonha, raiva de mim mesmo. Eu me propus a viver uma vida de coerência, onde minhas ações e meus hábitos são completamente coerentes com a consciência que desenvolvi sobre um assunto.

Mas quando não consigo ser coerente, entro em contradição e aí a briga interna começa.

Às vezes uma vontade que eu julgo. Outras vezes um comportamento que ainda não consegui incorporar.

Aos poucos comecei a questionar essa minha necessidade de ser 100% coerente e não ter contradições no meu comportamento. Fui percebendo que seria impossível. Que a contradição faz parte da vida e que é uma das formas de irmos encontrando o equilíbrio.

O equilíbrio não é um lugar estático. É um movimento dinâmico que passa por diferentes polaridades. Vamos de um lado para o outro e nos equilibramos no movimento. Como caminhar, andar de bicicleta ou respirar.

Na mudança de uma ação para outra entramos em contradição. Ia em uma direção e foi para outra. Quando chegou do lado esquerdo, voltou para o direito.

Recentemente assisti ao excelente documentário "A Sort of Homecoming" de Bono Vox e The Edge do U2 (Está no Disney Plus). E num determinado momento, Bono fala exatamente sobre isso.

“Minha vida se expandiu como artista quando percebi que não é preciso resolver cada contradição”, refletiu ao final do programa. “Na verdade, estar bem no centro da contradição é o lugar onde se deve estar.” Bono Vox

Quando escutei, pensei: "É isso!"

Às vezes só precisamos de uma confirmação. Há verdades aqui dentro de nós que precisam encontrar eco fora para serem comprendidas. E quando este eco vem de uma pessoa que você admira, fica mais fácil ainda de obter esta validação.

Penso eu que não é possível viver em paz sem abraçar a contradição.

É uma batalha perdida. Uma guerra infinita. Não vai acabar quando eu vencer minhas contradições e me tornar uma pessoa cem por cento coerente. Este conflito termina quando eu deixo de pensar que é um problema e começo a me aceitar mais como eu sou.

Alguns exemplos para tornar mais claro o que estou compartilhando.

Exemplo 1. Estou me preparando para sair do Instagram. Mas ontem enquanto escrevia, decidi fazer um video e acabei de postar. Antes de postar me julguei, me critiquei pela minha incoerência, mas decidi postar mesmo assim. Fiquei feliz.

Exemplo 2. Eu sou vegetariano quase sempre. 90% da minha alimentação é vegetariana. Muitas vezes vegana até. Mas se der vontade de comer carne, eu como. Antes eu sofria com isso. Menti para mim mesmo por meses. Depois que voltei a comer, fiquei em paz.

Exemplo 3. Parei de tomar café. Mas sábado fui tomar café da manhã na padaria e pedi um café. Ontem e hoje tomei chá.

Exemplo 4. Meu livro novo se chama "Não deixe pra depois". Na minha lista de atividades do dia de hoje estão coisas que eu deixei pra depois quando apareceram. (Mas nessa to buscando caprichar para fazer melhor).

São coisas simples. Mas acredito que a maior batalha é interna. Estar em paz não é tarefa fácil. É simples. Porém não fácil. A mente é ardilosa. Vivemos numa sociedade que introjetou culpa e vergonha dentro de cada pessoa. Se libertar desta autocobrança e abraçar as contradições é um bom caminho para a paz.

Sempre vai haver alguém te julgando por qualquer coisa que você fizer. Não seja você mais uma delas.

Gustavo Tanaka

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Estou escrevendo estes textos como forma de libertar minha criatividade e abrir espaço para novas ideias que querem chegar.

Se você gosta destes textos, tenho certeza que vai gostar do meu livro novo "Não deixe pra depois. Coisas que aprendi com meu pai sobre a vida e a morte"

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