O medo de uma folha em branco
Eu olho para a folha em branco e sinto medo.
Minhas mãos tremem.
É mais que medo. É quase um pânico.
Por não saber o que fazer.
Não saber o que escrever. Não saber o que desenhar. Não saber o que pintar.
Não saber que palavra escolher. Não saber que cor. Não saber se vai ser lápis, caneta ou aquarela.
Eu olho para meu computador.
A tela em branco.
Olho para as teclas e não sei o que escrever. Com que frase começo?
E ali fico por um bom tempo. Fujo para o facebook.
Olho no espelho e não sei quem eu sou.
Como é mesmo meu sorriso? Tento sorrir e parece forçado. Fecho os olhos.
Vejo minha vida à minha frente.
Com todos os caminhos abertos.
Com os olhos fechados, vejo meu passado.
Vejo todos os caminhos que percorri. Todas as profissões que tive. Vejo todas as pessoas que conheci.
São apenas lembranças. Memórias de uma realidade que não existe mais.
Minha vida se tornou essa folha em branco.
Posso escolher o que quiser viver. Posso escolher quem eu quero ser hoje.
Não consigo escolher.
Quero que os outros me digam quem eu sou. Quero que os outros me digam o que devo fazer. Quero que os outros me digam o que é melhor para mim.
Respiro fundo.
Abro os olhos.
Pego a caneta e começo a escrever.
E de repente as palavras começam a se encaixar.
As frases começam a aparecer e os parágrafos parecem fazer sentido.
Uma pincelada leva a outra. Um rabisco leva a uma forma. Uma forma leva a uma construção.
E em poucos instantes eu sou tomado por uma certeza.
Do vazio vem a criação.
Sinto meu coração disparar. Minha respiração fica curta e minhas células vibram em velocidade. Minha frequência mudou.
Eu conheço esse lugar.
Já estive aqui.
É o fluxo.
Estou de volta.
E já sei quem eu quero ser.
Sinto a vida.
Levanto e começo a voar.